As abelhas são muitas vezes associadas à produção de mel a partir do néctar das flores, mas a importância desses insetos vai muito além disso. Elas são essenciais para a manutenção da biodiversidade e para a produção de alimentos na natureza.
Ao redor do mundo há mais de 20 mil espécies e só no Brasil, o país com a maior biodiversidade delas, existem cerca de 300 espécies.
Esses insetos são divididos em dois tipos pelos especialistas: com ferrão (Apis mellifera) e sem ferrão (meliponíneos), reunindo-se em colônias para organizar e realizar atividades de suma importância para o desenvolvimento de suas espécies.
Organização das colônias
Dentro das colônias podem ser encontradas as abelhas operárias, responsáveis pela limpeza, manutenção e proteção das colmeias, e também pelas ações de coleta e transporte de água e pólen. Além delas, há os zangões, machos responsáveis pela fecundação da abelha-rainha.
“A função da rainha é pôr ovos para que a colônia se desenvolva e também manter a ordem social, para que as operárias façam os trabalhos dentro e fora das colmeias. Ela é que manda na colônia”, destaca André Sezerino, engenheiro agrônomo e especialista em apicultura, sobre as atividades realizadas pela abelha-mestra.
Quando se pensa nos insetos com ferrão, apenas as operárias aplicam ferroadas fora das colônias. As rainhas usam o ferrão só em brigas entre elas e também para pôr os ovos, e os zangões não têm ferrão por realizarem apenas ações reprodutivas.
O especialista ressalta que pode haver até 90 mil abelhas dentro de uma colmeia nos períodos de safra e de maior atividade, mas que esse número tende a diminuir no inverno devido à escassez de alimentos.
Importância das abelhas para a polinização
Todas as abelhas têm como principal função na natureza a realização da polinização das flores, atividade-base para a reprodução das plantas e manutenção da sua variabilidade genética.
“As pessoas acham que o maior serviço das abelhas é produzir mel, quando, na verdade, a maior função delas é realizar a polinização. Mais de 80% das árvores tropicais necessitam de polinização cruzada para sobreviver”, afirma André Sezerino.
A polinização consiste em transportar os grãos de pólen de uma flor para estruturas presentes na própria planta, sendo chamada de autopolinização, ou levar esses elementos reprodutores para outra flor, conhecida como polinização cruzada.
De acordo com o pesquisador da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), as abelhas e vespas praticam a polinização conhecida como melitofilia.
“Se a gente pensar na agricultura, estima-se que 70% dos alimentos que consumimos dependem da ação polinizadora das abelhas para ser produzidos. A maçã, por exemplo, depende 90% das abelhas”, enfatiza Sezerino. O engenheiro completa afirmando que, se colocadas nas lavouras de soja, as abelhas podem representar um aumento de 20% a 80% na produção.
Abelhas como agentes bioindicadores
Além de sua contribuição direta para o meio ambiente por meio da polinização, as abelhas podem ser muito importantes para análises de degradação e poluição ambiental.
De acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), esses insetos viajam e têm contato com as plantas, o solo, a água e o ar durante suas viagens. Por causa disso, partículas poluidoras podem ficar armazenadas no seu organismo, e a análise delas pode mostrar se o local por onde as abelhas passaram tem altos índices de poluição atmosférica.
A importância das abelhas em relação à degradação ambiental refere-se a algumas espécies endêmicas, que podem ser encontradas em apenas uma região, dependerem de características naturais muito específicas para sobreviver. Quando algum fator nesse ecossistema é alterado, esses insetos podem ser muito afetados.
“Uma abelha no sul do Brasil, chamada guaraipo, tem preferência por uma espécie de planta denominada canela, cujo tronco tem um diâmetro acima de 20 centímetros. Com o desmatamento, tem sido cada vez mais difícil encontrar essas árvores; logo, os enxames estão com dificuldade para fazer os ninhos e a população dessa espécie vai diminuindo com o tempo”, ressalta André.
Impactos dos agrotóxicos e mudanças climáticas
Os agrotóxicos são produtos químicos utilizados para combater doenças e pragas que podem afetar a produção agrícola. Contudo, assim como podem ser muito prejudiciais para agricultores e pessoas que consomem posteriormente os alimentos, essas substâncias também afetam de maneira negativa as abelhas.
“Existem algumas moléculas descobertas recentemente nos inseticidas que são extremamente tóxicas para as abelhas. Elas nem precisam ter contato com quantidades muito grandes para ter problemas que podem levar à morte”, destaca o especialista em apicultura com ênfase em polinização dirigida para a fruticultura.
O pesquisador ressalta ainda que os agrotóxicos podem ter efeitos subletais nesses insetos. As abelhas informam a localização de pólen e água para suas companheiras por meio de uma espécie de dança feita nas colônias. Entretanto, o contato delas com pesticidas, por exemplo, pode levá-las a fazer essa dança de forma errônea, atrapalhando o trabalho de toda uma colônia ao indicar locais errados para a obtenção de água e comida.
Agrotóxicos podem afetar a busca das abelhas por água e alimentos
“Quando elas vão para esses lugares, parte da energia que usam para voltar à colmeia vem do néctar que elas coletam da flor. Então, se elas vão até lá e não encontram uma flor, muitas vezes elas morrem pelo caminho”, afirma Sezerino.
Outro fator que pode atrapalhar as atividades das abelhas são as mudanças climáticas. Muitas espécies de abelhas são caracterizadas pela sua adaptação a um ambiente específico, tornando-se endêmica.
Aumento da temperatura e escassez de água são duas alterações ambientais que afetam muito a vida desses insetos e, a partir do momento em que as mudanças climáticas se aceleram, eles não conseguem acompanhar o ritmo e acabam morrendo.
“Há uma frase atribuída a Albert Einstein em que ele diz que, ‘sem as abelhas, em quatro anos a humanidade desapareceria’. 70% do que a gente come depende das abelhas; se acabarem as abelhas, acaba também grande parte da nossa comida. Então seria questão de tempo para a humanidade entrar em colapso”, afirma André Sezerino.
Fonte: R7