O mesmo inseto que produz uma das maiores fontes de cárie guarda o segredo para erradicá-la. O própolis, resina fabricada pelas abelhas para proteger as colméias, também é capaz de eliminar as bactérias que alojam na boca do ser humano. Usada por muitos para combater gripes, irritações na garganta, cicatrizar feridas e infecções, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) encontraram nessa poderosa resina natural mais uma arma: a prevenção da cárie bucal e o estímulo à fabricação de saliva, que ajuda no tratamento de pessoas com câncer. O estudo é da Faculdade de Odontologia de UFMG e foi apresentado durante a Semana do Conhecimento e Cultura da UFMG 2008.Prpolis
Se as pessoas a usam para cicatrização e inflamação por que não testá-la nas doenças bucais? A pergunta foi o ponto de partida para o estudo sobre a própolis, segundo o cirurgião dentista, professor e pesquisador da Faculdade de Odontologia da UFMG, Vagner Rodrigues dos Santos. Em 1996, comandado por Vagner, o grupo de pesquisadores formado por alunos de mestrado em odontologia, iniciação científica e do curso de farmácia e física da universidade, recolheu cerca de 14 amostras do extrato da resina comercializados no mercado de Minas Gerais.
O primeiro teste, in vitro, descobriu o poder do produto das abelhas sobre a Cândida albicans, popularmente conhecida como sapinho, comuns na boca, principalmente de bebês, e no peito de mães que estão amamentando, além disso, primeiro sintoma de portadores de HIV. Comparando a eficiência da matéria-prima com outros antibióticos, o resultado foi surpreendente. “O uso do extrato para combater esse fungo foi excelente e teve uma potência maior que outros medicamentos usuais”, conta Vagner.
Com o bom resultado da pesquisa, outro passo foi dado pelos pesquisadores que, depois de análises, levantaram uma suspeita: se a própolis é usada pelas abelhas para proteger as colméias contra invasão de outros corpos, sendo capaz de mumificá-los, a resina mata microorganismo. Para constatar o que suspeitavam, eles começaram, em 2000, testes com seres humanos. O primeiro foi com pessoas com a Cândida da albicans. “Cerca de 20 pacientes fizeram durante 10 dias o tratamento com o extrato, enquanto outros 15 utilizaram antibióticos comuns. Passado o prazo, 90% dos primeiros não tinham mais nada, o que não aconteceu com o outro grupo, que teve de continuar a medicação por mais cinco dias. Constatamos que a resina é até melhor”, conclui.
E outra experiência, eles recolheram 1 miligrama da saliva de 30 pacientes suscetíveis à cárie e fizeram a contagem dos microorganismos na boca dessas pessoas. O resultado foi um número expressivo: 1 bilhão. “Fizemos com que eles usassem por 15 dias, pela manhã e à noite, um gel e um enxaguante a base de própolis e, mais uma vez, nos surpreendemos. Quando recolhemos novamente a saliva deles, o número de habitantes na boca caiu para 100 mil”, revela Vagner, acrescentando que a resina fabricada pelas abelhas tem um forte controle sobre crescimento de bactéria. “Ela interfere na formação do açúcar, propício para o problema bucal, impedindo que a proteína se fixe no dente e não se forme”, explica.
ALÍVIO PARA A BOCA SECA
Outra descoberta foi que para pacientes com câncer que sofrem irradiações têm, como resultado do tratamento, falta de saliva, sintoma que faz muitos reclamarem de boca seca. “Como o líquido é uma proteção bucal, sem ele os microorganismos fazem a festa”, afirma o professor e pesquisador da Faculdade de Odontologia da UFMG, Vagner Rodrigues dos Santos. Ele conta que foram testados em seis pessoas com a doença o uso do gel bucal e enxagüantes à base de própolis. “Ao final de 45 dias, não desenvolveram mais a mucosite, que faz com que fiquem com a boca seca. O que foi um alívio para eles.
Para que o resultado com gel e enxagüantes bucais seja eficaz, o pesquisador aconselha que esses produtos, encontrados no mercado, tenham acima de 5% de concentração de própolis. “Há muitos cremes dentais que não usam essa quantidade, o que não permite um resultado esperado”, alerta.
Uma outra pesquisa que está sendo feita é o combate da gengivite, doença na gengiva, e a periodontite, infecção que ataca a estrutura dos dentes. “Pedimos a uma empresa para criar um gel periodontal à base de própolis, para que o implantássemos no entorno dos dentes. Aplicamos o produto quatro vezes, durante um mês, em 10 pacientes que sofreram da doença, e a bolsa periodontal desapareceu. Ainda não sabemos se os ossos voltaram ou não”, revela.
De acordo com o pesquisador, a própolis brasileira, considerada a melhor do mundo, é classificada em 12 tipos, dependendo de qual flor as abelhas polinizam. “Em Minas Gerais, elas retiram a matéria prima do alecrim do campo, por isso, a resina possui uma cor esverdeada”, explica Vagner, que informa que todos os testes foram feitos com o tipo mineiro. “É um grande potencial do Brasil, pois não apresenta contra-indicações, é efica, natural, rápido em curas e tem custo baixo. O melhor é aproveitarmos”, afirma.
Jornal Estado de Minas – Caderno Gerais pg.27 Pesquisa – Aut. Luciane Evans – 2008.10.26.Dom.