Os benefícios da própolis são amplamente conhecidos, especialmente suas propriedades anti-inflamatórias e seu papel no aumento da imunidade. Durante a pandemia de Covid-19, a procura por própolis aumentou em 30%, segundo a Federação Mineira de Apicultura (Femap). Mas entre tantas opções disponíveis no mercado, existe uma que merece a sua atenção: a própolis vermelha. Você conhece?
O Que é a Própolis Vermelha?
A própolis vermelha é produzida a partir de uma seiva encontrada no rabo-de-bugio, uma vegetação dos manguezais. Considerada o “ouro-rubro”, a saliva das abelhas transforma a seiva encontrada nos mangues numa espécie de “cimento”, utilizada para revestir a colmeia. Rica em vários compostos, a própolis vermelha tem propriedades antibacterianas, antifúngicas, antivirais, anti-inflamatórias, além de alto poder cicatrizante e ação antioxidante, atuando na prevenção do envelhecimento precoce.
A substância de cor avermelhada é alvo de vários estudos sobre suas propriedades. Um estudo recente realizado na Universidade Guarulhos, com apoio da FAPESP, mostrou que a própolis vermelha é mais eficaz no tratamento da esquistossomose do que o único medicamento existente contra a doença (Journal of Ethnopharmacology, 2023).
A esquistossomose, também conhecida como barriga d’água, é uma doença parasitária que acomete cerca de 300 milhões de pessoas no mundo. Causada pelo Schistosoma mansoni, inicialmente assintomática, mas que pode evoluir e causar graves problemas de saúde crônicos, podendo levar à internação ou morte. Testes em laboratório mostraram que 400 mg/kg do extrato de própolis vermelha foram suficientes para reduzir em mais de 60% a carga parasitária em camundongos infectados com o verme.
“As própolis, em especial a vermelha, já têm ação muito conhecida contra bactérias e fungos. Elas têm a função de proteger a colmeia de intrusos e já era esperado que algumas de suas mais de 20 substâncias atuassem contra agentes infecciosos parasitários. O que nos surpreendeu foi ela atravessar o tegumento do verme e matar tanto vermes adultos quanto imaturos, algo que o tratamento convencional da esquistossomose não faz,” afirma Josué de Moraes, professor da Universidade Guarulhos e autor do artigo publicado no Journal of Ethnopharmacology.
Atualmente, um único medicamento é usado contra a doença há mais de 40 anos. “Embora efetivo, o praziquantel tem limitações importantes. Diferente do que foi observado no estudo com a própolis vermelha, o medicamento não combate a infecção precoce, causada pelos vermes jovens. Ele tem efeito apenas em vermes adultos, o que exige que o paciente espere o ciclo de crescimento do verme até o estágio adulto (infecção crônica) para iniciar o tratamento,” afirma Moraes.
Outra limitação do praziquantel está na resistência de alguns vermes a ele. Com cerca de 40 anos no mercado e sem nenhum tratamento alternativo, já foram isolados e identificados vermes com suscetibilidade reduzida ao medicamento.
Moraes afirma que o mais provável é que as própolis verde e marrom também apresentem algum efeito sobre a esquistossomose, mas que serão necessários estudos específicos com os outros dois produtos naturais.
A descoberta pode ter ainda aplicação em outras verminoses. “O esquistossomo é modelo para o estudo de infecções (em humanos e animais) causadas por outros tipos de vermes do grupo dos platelmintos, chamados de vermes chatos, como as tênias. A descoberta, portanto, abre uma oportunidade para novos estudos sobre o tratamento de outras doenças que acometem humanos, cães e gatos, e que também são tratadas com o praziquantel,” diz.
Fontes:
“Journal of Ethnopharmacology, 2023”
“Federation of Apicultural Associations of Minas Gerais (Femap)”
“Universidade Guarulhos, Study on Red Propolis”
“FAPESP, Supporting Research on Red Propolis”